Vera Magarreiro, enviada da Agência Lusa São Tomé, 30 Jul (Lusa) - A Universidade de Oxford está a realizar um estudo em São Tomé e Príncipe sobre o "banho", dinheiro em troca do voto, e o nível de consciência cívica da população, cujas conclusões serão divulgadas dentro de três meses.
Em declarações à Agência Lusa, Pedro Vicente, autor do estudo, explicou que o primeiro inquérito, feito a 1.300 famílias em todo o país, já está concluído, mas a segunda parte, "a mais mediática" será feita depois das eleições.
O objectivo deste segundo inquérito, acrescentou Pedro Vicente, é "quantificar as consequências do banho na vida das pessoas e se muda a intenção de voto".
Face à sensibilidade do assunto, a pergunta a fazer às pessoas que fazem parte da amostra é: "Testemunhou a existência de banho na sua área de residência" com sete hipóteses de resposta que vão desde "nada frequente" a "extremamente frequente.
Na primeira parte do inquérito, que se realizou na primeira quinzena de Julho, os colaboradores do estudo, 11 alunos e professores são-tomenses e um doutorando da Universidade de Oxford, distribuíram um folheto à população intitulado "Não dê Banho à sua Consciência".
No total, foram distribuídos 10.000 folhetos em 40 zonas do país e em colaboração com a Comissão Eleitoral Nacional, "que explica como o banho é contra a lei" e a importância de "votar de acordo com a consciência".
Segundo Pedro Vicente, do Centro de Estudos de Economias Africanas da Universidade de Oxford, no Reino Unido, "esta mensagem não foi, muitas vezes, bem recebida" pela população, que vê nos actos eleitorais uma forma de conseguir um dinheiro extra.
Oficiosamente, os são-tomenses admitem o banho, que normalmente ronda as 100.000 dobras (cerca de oito euros), um extra importante, considerando que o salário mínimo é de 400.000 dobras (cerca de 30 euros) e que 53 por cento da população vive em situação de pobreza extrema.
Segundo o autor, "foi deixado em casa das 1.300 famílias um postal, que devem enviar por correio caso queiram que os resultados do estudo sejam divulgados".
Pedro Vicente explicou que esta acção prende-se com outro dos objectivos do estudo, que é "medir a cidadania" da população e neste caso, "ver se se dá ao trabalho de ir aos correios enviar o postal".
O estudo pretende ainda avaliar "como a população vê a forma como está a ser servida", ou seja, sobre a qualidade de serviços públicos nas áreas da saúde, justiça educação ou polícia, bem como o grau de percepção de cidadania".
De acordo com as conclusões intercalares, "ainda provisórias porque o estudo não está concluído", há "uma falta de sentimento de cidadania, porque as pessoas não fazem ideia que têm o poder nas mãos", referiu Pedro Vicente.
Este estudo do doutor em Economia segue-se a outro realizado em 2004, que serviu de base à sua tese de doutoramento pela Universidade de Chicago, que analisou a evolução no país, nas mesmas áreas, desde 2000.
As conclusões apontam que "as coisas estão piores, a compra de votos aumentou, a nível da educação é mais complicado obter uma bolsa de estudo e os serviços de saúde foram centralizados".
Segundo Pedro Vicente, este agravamento "pode ser ligado ao aparecimento de petróleo em São Tomé e Príncipe e à vontade da elite política em ganhar mais poder".
No final, o estudo feito em São Tomé e Príncipe será comparado com outro realizado em Cabo Verde.
Lusa/Fim
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